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O homem mais sexy do mundo segundo a Revista People.

23 junho 2006

Encontro na rua

Caminhando de volta para casa, um início de noite fria, passos repetidos tantas vezes já. A menina de mochila, jeans, tênis rabiscado e caderno na mão voltava do colégio. Com seus dezessete anos, último de colégio, já tinha vaidade há tempo o suficiente para saber o seu efeito nos homens. Lindos cabelos, maquiagem bem feita, roupas casuais, mas bonitas. Sabia se vestir, sabia sorrir, sabia se portar. Era uma garota de cidade grande, uma menina que sabia ser mulher.
O caminho de volta para casa durava uns dez minutos desde que saia do metrô. Tantas vezes feito pela menina, geralmente tranqüilo, por ruas movimentadas e iluminadas. Ela vinha descendo logo o primeiro quarteirão e dentre tantos passantes logo a frente havia um homem de terno, seguramente voltando do trabalho, bem vestido, elegante, por cima do terno usava um sobretudo chumbo e ainda um cachecol cinza em volta do pescoço. Não era alto, mas tinha uma soberania muito grande no modo como andava, ao abrir um pouco o caminho pode ver também que era um moço muito bonito e mais jovem do que imaginara. Não tinha muito mais do que vinte e cinco anos, barba propositalmente mal feita, parecia um daqueles elegantes italianos que se vê nos filmes seduzindo mulheres com pouco mais que um sorriso e um sotaque.
Só que mais a frente a realidade atrapalhou suas rotineiras fantasias. Um grupo de quatro ou cinco moleques, de rua, mal encarados, falando alto, encostados entre um poste e as costas de uma banca de jornais. A menina aprendeu nas andanças pela cidade a reconhecer pequenos marginais entre os tipos que se vê nas ruas. Sabia diferenciar trombadinhas entre indigentes ou apenas garotos muito pobres. Quando estão em grupo fica óbvia a diferença. Falam alto, propositalmente incomodando à todas as outras pessoas, percebe-se neles aquela falta de respeito pelo bem público e orgulho que têm dessa postura de desprezo e o constante desejo que têm de causar medo, de intimidar.
O grupo já havia sido notado pelo homem que andava ligeiramente à frente também. Voltava do trabalho apressado. O bom emprego que conseguira lhe custava muito esforço e sono. Um dia que pudesse voltar tão cedo deveria ser aproveitado. Ainda mais morando sozinho, tantas coisas a arrumar no apartamento e, sonhava, poderia até dormir antes das onze hoje. Agora via aquele garotos à frente, mas não via perigo na situação. A rua ainda estava movimentada, lojas abertas, iluminação. Via também naquele grupo apenas farra. Eles eram muito novos ainda, via-se que não intencionavam nada sério por aqueles lados. Apenas um bando de garotos se enturmando, se afirmando perante os outros, tentando virar homens. Eram muitos e chamando muito a atenção para pequenos furtos e muito novos e num lugar não muito próspero para assalto ou mesmo roubo de carros. Apenas garotos pobres que têm na influência do crime o seu referencial e se divertiam causando medo, intimidando.
Só uma coisa preocupou o homem, a menina de colégio que vinha logo atrás. Via-se que estava com medo, viu os garotos olhando, comentando entre si e apontando para a menina. Muito bonita e muito frágil era aquela menina. Eles não fariam nada grave, mas queria cuidar da menina. Protegê-la, sentia falta de cuidar de alguém que não ele mesmo, cultivava um carinho sem dono. Ele então diminuiu o passo conforme se aproximavam do grupo de moleques. A menina vinha assustada e apressada. Metros antes de alcançarem o grupo, o homem já estava lado a lado com a menina. Ele acertou o passo com ela, ela nem percebeu. Estava preocupada demais com seus medos. Ele deixou-a passar a frente, deu a volta por trás dela e acelerou para ficar ao lado dela novamente, mas agora do lado da rua, onde a maioria dos garotos estava. Quando passavam pelo grupo, se manteve entre a maioria dos garotos e a menina o tempo todo. Do outro lado apenas um dos garotos, que ele encarou enquanto eles passam por onde estava encostado. O grupo ficou para trás, ele diminuiu o passo, deixou a menina ir na frente, apressada e ele ficando cada vez mais atrás, exatamente na direção que ela andava.
Aquele dia o homem terminou o dia completo. Cuidou do que precisava ser feito em casa, dormiu cedo. Lembrou da menina, imaginou dar um beijo em sua testa e deixá-la ser feliz em sua vida tão simples de menina de colégio.
A menina terminou o dia confusa, se sentia um pouco ignorante mas não sabia muito porquê. Não entendia ainda o mundo, não sabia de muita coisa. E o pouco que ela achava que sabia a enganava. Hoje aqueles moleques que eu julguei tanto, não me fizeram nada. E havia um homem bonito e elegante ao seu lado, quando a única coisa que ela queria era que ele fosse grande e mal-encarado para assustar aqueles moleques.
Há muito o que pensar quando temos nossas vidas simples, porque quando elas se tornam complicadas novamente, há muito o que agir.
O caminho de volta para casa é sempre o mais querido. É um momento de reflexão, de transição entre o que ficou para trás, seja o trabalho, o colégio ou outro país. Há encontros que não passam de expectativa. Relacionamentos que não passam de impressões.

21 Comments:

Blogger Milli said...

Nossa. divino.
QUem dobrou seu para-quedas hoje? afinal, se seu salto foi bem sucedido, foi pq 1) vc é mto bom, mas tb alguem cuidou do seu equipamentp.

Mas no mundo que estamos hoje, no Brasil que vivemos acreditar em um cara bonito e bem vestido não é garantia de nada.

O caminho de volta para casa é o momento de vc saber separar as coisas, nao misturar seus problemas de trabalho com os de casa e vice versa. Deixar as tristezas e o mau.humor em uma arvore fora de casa e fora do trabalho.

sds.
Milena

23 junho, 2006 18:28  
Blogger Lubi said...

Ah, Rodrigo, bom texto!
E umas frases sopradas que me fizeram parar e pensar e mergulhar na leitura.
Adorei a frase da janelinha!
=D
E visitei o passado de suas palavras.
Gostei do que vi. De novo.
Beijos.

24 junho, 2006 17:01  
Blogger Lubi said...

Ficou bom mesmo!
Que bom!
Gostei dessa brincadeira! Haha!
Mas, veja como irá funcionar quando você postar...
Beijos!
:*

24 junho, 2006 19:23  
Anonymous Anônimo said...

Através de um link em outro blog, minha curiosidade trouxe-me aqui!
E gostei do conto...ou alguma experiência sua revestida dessas fantasias que a gente sempre tem!

Dei uma passada nos outros textos;e gostei muito!É sempre bom ler as linhas dos outros!Dá sempre pra gente achar alguma coisa nossa nessas linhas alheias...

E a frase os relacionamentos como impressões tá ótima;e o final do texto anterior("Inesperado")...nossa!...muito bom!

26 junho, 2006 13:36  
Blogger Marjorie Chaves said...

Bem, nem sei o que dizer... Vc se esmera nos detalhes! Gostei deste trecho: "Há encontros que não passam de expectativa. Relacionamentos que não passam de impressões". Totalmente a minha cara. Acho que vc escreveu pra mim! Heheheheheeh...

Ótimo texto.

=]

26 junho, 2006 15:19  
Blogger A czarina das quinquilharias said...

e na cabeça de cada pessoa, foi um relacionamento diferente.
muito bom :)
(não demore tanto pra escrever o próximo)

26 junho, 2006 22:29  
Blogger Lubi said...

Postado texto do relógio cujo ponteiro passeava pelas 17. Hahaha!
Beijo.
Bom final de semana.

01 julho, 2006 17:29  
Anonymous Anônimo said...

Bela história!

02 julho, 2006 15:19  
Anonymous Anônimo said...

, ele protejeu ela. alguns atos diários que fazem diferença...
esta frase "há encontros que não passam de expectativa" é arrebatadora....

, de "coração na boca" parei aqui, voltarei mais vezes.
|abraços meus|

03 julho, 2006 10:22  
Blogger A czarina das quinquilharias said...

ah, que isso...é admirável o poder da síntese.
bjo

04 julho, 2006 20:24  
Blogger Lubi said...

Pra deixar um sorriso e um sopro de coisas boas.

06 julho, 2006 16:31  
Blogger A czarina das quinquilharias said...

comente como preferir. vai ser sempre bem vindo :D

10 julho, 2006 18:54  
Blogger A czarina das quinquilharias said...

vá lavar entre suas orelhas com cotonete!!
sujo e mau.
mas eu perdoo.

11 julho, 2006 16:57  
Anonymous Anônimo said...

Gostei. Gosto da sua (e da minha) mania de pegar coisas aparentemente simples do cotidiano e escrever um romance! amo vc!

14 julho, 2006 11:47  
Anonymous Anônimo said...

Nossa, quanto tempo que eu não passo por aqui!
Gostei bastante do texto, e do pop up!
Ah, agora eu tb quero um pop up...
Bjos!

14 julho, 2006 22:41  
Anonymous Anônimo said...

Oi Rodrigo,
Obrigada pelo comentário lá no meu blog.
Adorei os textos do seu blog. Vou colocá-lo nos meus favoritos, e acompanhar as atualizações.
Eu inscrevi o meu blog no concurso só por inscrever mesmo. Acho que não vai dar em nada.
Entendi + ou - seu comentário. Eu posso dizer para vc, com segurança, que não me importo com o que os outros pensem ou deixem de pensar de mim. Mas, vc viver a vida inteira e sentir que não fez diferença para ninguém é meio foda. É um assunto meio complexo...
Beijos.

17 julho, 2006 10:57  
Anonymous Anônimo said...

Olha, q literato eu vim encontrar numa das minhas buscas de coisas boas pela rede ...
muito bom o texto, bom ler-te e deixar minhas impressões.

da menina e do moço que eu , na minha imaginação romantica e novelística, esperava tanto...

@>--

Bom te encontrar ...

20 julho, 2006 11:23  
Blogger Marjorie Chaves said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

20 julho, 2006 14:56  
Blogger Marjorie Chaves said...

Menino, tu escreves tão bem... Bora atualizar isto aqui, já! Hehehehe.

=]

20 julho, 2006 14:57  
Anonymous Anônimo said...

Soneca ....

me faz sorrir, faz?????

@>--

25 julho, 2006 09:29  
Blogger Lubi said...

Queremos post, queremos post!
Hahahaha!
Adoro um tumulto!
=P

25 julho, 2006 09:53  

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