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O homem mais sexy do mundo segundo a Revista People.

15 agosto 2005

A pequena história de um menino tão comum

(antes o nome era "A Fábula de um menino tão comum", mas como de fábula essa historinha não tem nada, afinal não tem nenhum animal falante... mudei para a "pequena história")

Deixe-me pensar. Era um menino tão comum. Com desejos e esperanças. Aquele menino que não desperta atenção nem no mais atento professor. Não que fosse medíocre, pois o sentido que essa palavra ganhou não resume esse menino. Talvez ordinário seja mais próprio a ele, mas também não é o adjetivo perfeito. Na verdade, acho que sua maior característica foi a capacidade de passar por qualquer rótulo, mas não se encaixar em nenhum. Era respeitado por todos, mas não admirado. Isso não o deixava infeliz, ou feliz. Mas, por alguma razão, era um garoto melancólico.
E esse menino caminhava de volta para casa, pensando na noite. Ele percebia que o tempo não existia, percebia que seus pensamentos duravam cada passo e ao mesmo tempo todo o caminho. E todo o caminho durava apenas um instante. Mas desses instantes que aproximam o homem do eterno. Chegando em casa, no ato de abrir a porta, ele pensava em tudo isso. Via que não era possível dizer ou explicar, ou mesmo reconhecer cada pensamento separadamente. Não podia lembrar onde começava cada idéia nem havia chegado em casa com conclusões lógicas ou práticas daquilo tudo. O tempo passara sem que houvesse percebido e talvez o modo como flutuara tenha sido apenas um passatempo para enfrentar a tediosa volta para casa. Mas ele sabia que era muito mais que isso e que todas idéias que voaram dentro de sua cabeça não haviam se perdido ou simplesmente passado. Elas haviam se incorporado ao seu ser e ele havia crescido mais um pouco. Ele sabia disso e por isso gostava tanto de se perder em seus pensamentos. E por isso que, em algum dos dias seguintes, no atrasado e apressado caminho para a escola, preocupado com a aula que mais uma vez pegaria no meio, ele parou. Parou para observar um longo caminho que formigas formavam pela calçada. Um caminho longo, excessivamente longo, excessivamente populoso, onde ele gastou, economicamente, num instante, observando apenas, trinta minutos. E esse menino tinha um amor. Uma menina comum, por todos querida. E isso a fazia feliz. Num sorriso singelo ela desenhava todo o pôr-do-sol. Seu olhar iluminava o menino cada vez que se dirigia a ele. Como era possível um gesto tantas vezes repetido encher, a cada toda vez que acontecia, o seu coração de alegria? Era repetido, mas não automático. Cada vez que se mostrava era do mais puro sentimento, sincero. Os outros meninos não reparavam nela. A achavam “sim, bonitinha”. Mas não comentavam seus contornos. Só aquele menino que nela enxergava todo seu esplendor. E ele sabia que não eram seus olhos que enxergavam coisas onde não havia. Não, nesse caso não havia a beleza apenas nos olhos de quem vê. A beleza estava lá, majestosa, talvez na mais descarada demonstração da Idéia de Beleza de Platão. A essência do belo se mostrava naquela doce menina. Não se via nela, unicamente, a beleza sexy, a beleza infantil, a beleza desejada, a beleza invejada, a beleza fria, a beleza alegre. Não se via nela nenhuma dessas restrições da beleza, porque ela era, simplesmente, bela. Se desejado, poder-se-ia identificar nela cada tipo separado de beleza. Mas, com cada uma dessas individualizações da beleza sendo uma cor, ela era o mais puro branco. E o menino, do fundo de seu coração, seguindo toda a pureza de seu sentimento, escreveu;
abre aspas:

Percebi, então, minha intenção,
Naquele instante que o sol me deu,
Aquela luz de sol poente,
Atingiu meu coração,
Seu sorriso se fez meu,
Seu olhar me fez contente
O sol tão belo quando desce,
Quando o céu se faz vermelho,
Com seus raios sem destino.
E um bom raio que merece,
Descobrindo o meu desejo,
Encontrou algo tão lindo.
Em seus olhos se ampliou,
Refletiu-se em seu sorriso,
E mirou meu pobre peito.
Num momento se inflamou,
E uma alegria sem aviso me deixou quase sem jeito.
E o amor se encheu em mim
E você nem percebeu,
Quieta, doce e bela,
O amor por minha donzela.
Que desde então, sempre cresceu
Esperando intensamente.
Pretensamente, um dia enfim,
Você também gostar de mim.
, fecha aspas.

Mas essas palavras, a linda menina não escutava, não lia, nem sequer imaginava existirem. Todo o carinho que ela demonstrava, todo o afeto que ela transbordava e todos aqueles sinceros e singelos olhares e sorrisos, tudo era fruto de um sentimento lindo, profundo e puro. Mas o sentimento puro da menina não era o mesmo sentimento que havia no peito do menino. O que fazia aquele garoto sorrir, a cada visão de beleza, era amor. O que fazia aquela menina sorrir, a cada visão de alegria, era amizade. E ela continuava sua vida feliz, sem culpa ou receio. Uma vida simples e tão plena, tão completa e tão harmônica, que o menino simplesmente não achava ter o direito de criar, qualquer que fosse a razão, qualquer distúrbio naquele sonho perfeito. Ele achava injusto que seus sentimentos pudessem interferir em tão bela música. E ele se enganava, imaginando ser suficiente apenas poder apreciar tão formosa criação. Abraços de carinho, beijos de amigo, sorrisos de fraternidade, ele pensava isto ser suficiente para aplacar seu desejo de amá-la. Ele se enganava, mas era tão bom nisso, que se tornava realmente feliz. Seu coração realmente se enchia de amor com a simples visão de sua amada. E vê-la assim, tão bem, com tudo tão certo em sua vida, e, ainda mais sabendo ela o querer bem, isso lhe saciava a alma.
Porém um dia, como a lógica previa, algo mudou. Era evidente, mas o coração daquele menino não era lógico, nem tão mundano ou prático. Ao vê-la com um sorriso nos lábios e seus lábios tocando os de outro, e o sorriso, viajando através do contato, estampar-se no rosto de outro garoto. Um outro garoto não tão simples, sem tanto amor, não tão perfeito para ela. Mas um garoto que a fazia feliz, que também a queria bem e que conquistara seu coração de menina. Ao vê-la passear, cantar, contar. Contar-lhe seu amor, com a mão no peito, que mal continha tanta fascinação, e com o pensamento naquele sujeito, que simplesmente não era a peça que deveria se encaixar naquele sonho de menina.
E o garoto era de novo melancólico, e dessa vez sabia a razão. Mas agora ele também era triste, infeliz. E dessa vez sabia a razão. E ele tentou se arrepender, mas não sabia exatamente do quê. Como antes, talvez mais que antes, a garota era feliz. E ela continuava a lhe querer bem. E ela continuava a sorrir para ele, abraçá-lo e beijá-lo, o beijo de amiga.Ela também percebeu a tristeza crescendo na alma do menino. Mas nunca chegou a conhecer a razão das lágrimas perdidas no rosto do menino. E, de novo, ele se achou injusto e egoísta, por querer atrapalhar a vida feliz da pessoa que mais importava naquele mundo. Mas ele não sentia raiva, nem de si mesmo, nem do outro garoto. E ainda sentia amor, por si mesmo e pela sua menina.
E com esse amor tranqüilo, com sua felicidade melancólica, o menino resolveu andar. Desviou-se do caminho da escola e seguiu por entre as árvores do parque, pisando a grama molhada de manhã. E o caminho de formigas ele avistou, populoso e longo como mais atrás, mas num ambiente que explicava seus modos. E o menino sentou sobre seus calcanhares e permaneceu a observar as formigas. E nunca saberemos seus pensamentos e angústias desde então. Nunca saberemos como seria se seu caminho fosse diferente. A bela menina continuou feliz, e seu querido namorado também continuou feliz. Mas só o pobre menino continuou cheio de amor, do mais puro, forte e generoso. E o menino permaneceu observando as formigas, numa confusão silenciosa. As horas passaram, mas não se modificava o semblante tranqüilo do menino. Os dias passaram, meses, anos. O tempo ainda era para o garoto um instante. Na paisagem ele sumiu, ninguém mais o via, ninguém sabia como vê-lo. Apenas a bela menina, que em sua felicidade, passeando por aquele parque sorria toda vez que o via, sentado, olhando a grama. Às vezes ela o abraçava, às vezes o beijava um beijo de amiga, mas sua vida continuara e passara toda, naquele instante que o menino olhava o pequeno caminho vacilante. Até hoje o menino ali permanece, mas ninguém o vê. Ninguém mais tem o direito de vê-lo. Ninguém jamais compreendeu o amor daquele menino tão comum, com desejos e esperanças.

6 Comments:

Blogger Daniel Akashi said...

genial essa foto! o texto nem tanto.

20 agosto, 2005 04:38  
Blogger Lubi said...

Discordo de Daniel sobre o texto.
Gostei, gostei muito e sigo pensando.
E flutuando.

28 junho, 2006 13:15  
Blogger Lubi said...

Você conta muito bem as coisas, caramba!
E eu fico meio-boba.

28 junho, 2006 13:15  
Anonymous Anônimo said...

Lindo. Adorei.

28 setembro, 2006 20:14  
Anonymous Anônimo said...

Por que nao:)

21 novembro, 2009 08:31  
Blogger Rodrigo, o Soneca, Pontes said...

Quem foi o anonimo que disse "Por que não :)" ??

22 novembro, 2009 21:46  

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