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O homem mais sexy do mundo segundo a Revista People.

03 novembro 2005

Encontro no metrô

Ela estava suando. O dia frio lá fora, ela com uma blusa gola alta e mais um casaquinho por cima. Mas dentro do metrô estava mais abafado, e ela carregando tanta coisa. A bolsa, bonita e moderna, mas grande e com a alça muito curta, tinha que ficar no ombro. Uma mala grande, estufada de tanta roupa, pendurada no outro ombro. Uma malinha de mão, com todas as pequenas tralhas necessárias a uma mulher para uma viagem. E ela ainda com a carteira na outra mão, tentando, só com a habilidade de seus dedos, guardar o passe de metrô que acabara de usar e fechar a carteira de ziper.
Ele estava com pressa. Mais na ansiedade de sua mente do que em suas ações. Afinal não havia muito que pudesse fazer para acelerar sua viagem. Era esperar o trem chegar, embarcar e esperar ele chegar na estação ao lado do banco onde trabalhava. Não pretendia também correr quando chegasse a estação. De paletó e gravata certamente iria suar muito se corresse, apesar do frio. E de camisa azul clara, a mancha de suor embaixo do braço não seria lá muito discreta. Era novo na área, não podia deixar más impressões sob nenhum aspecto.
O trem chegou e ele viu a mulher toda complicada com mil coisas para passar pela porta.
"Quer uma ajuda?"
Ela nem tinha olhado ainda para o homem quando respondeu.
"Claro, nossa, brigada!"
"Que é isso."
Ele pegou as duas maiores malas e levou para dentro do trem, ela veio logo atrás com a carteira finalmente fechada e a bolsinha de tralhas.
"Vai descer onde?"
"Na Sé."
"Eu também. Mas desce lá mesmo ou só troca de linha?"
"Troco de linha"
"Eu também e..."
Pensou alguns momentos. Ela era bonita. Não apenas bonita, mas... bonita. Agradava olhar, conversar com ela. Mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, achou melhor tranquilizá-la.
"e... olha, só para não achar que estou dizendo que vou pro mesmo lugar que você porque quero te seguir, já digo: Vou descer na Sé e seguir em direção ao Tucuruvi, descer no Tietê, trabalho lá pertinho, vou a pé."
Ela sorriu. Não, ainda não havia passado pela sua cabeça que ele pudesse ser de algum mal e a estivesse seguindo. Mas tranquilizou-se ouvindo aquilo.
"Eu também vou descer no Tietê", sorriu.
"Ah, vai viajar?"
"É... isso."
Ele segurou a força do hábito e não perguntou qual era o destino. Estava preocupado em não ser abusivo de modo algum. Queria mesmo era ser uma companhia tão agradável, quanto ela estava sendo a ele.
Ela notou uma respiração pausada, uma boca entreaberta, um sorriso suspenso e uma sensação agradável.
"Vou para a cidade de minha vó. Uma cidadezinha pequena perto de Piracicaba.", sorriu.
Um sorriso cúmplice e agradecido ele tinha agora, mas logo uma reação.
"Ela está bem?"
"Sim, apenas uma visita de neta."
"Fico feliz."
Só não sabia se feliz pela vó estar bem ou pela grata surpresa de encontrar uma mulher tão generosa com a vó. Decerto uma senhora solitária que ficaria deliciada com uma visita da neta. Não apenas agradecida com um telefone esporádico do neto, como sempre acontecia com sua própria vó.
"Perdão... ainda não sei o seu nome."
"Sabrina e o seu?"
"Renato, prazer"
Ela sorriu.
Ele finalmente acreditou estar sendo a pretensa boa companhia para ela. A viagem foi seguindo e ele passou a falar de si, mas sempre de maneira contida. Não queria impressiona-la, mas sim, já admitia, queria conquista-la. Permaneceu atento se ela continuava interessada no que ele tinha a falar e seguiu dizendo alegrias de sua vida, sonhos adiados por obrigações, esperanças na vida, o que o fazia sorrir a cada manhã.
Ela manteve seu olhar deslumbrado, seu sorriso divertido, sua cabeça um pouco tombada para o lado. Ela se deixou levar por aquele homem gentil e interessante. Ela percebia como ele se continha ao contar fatos mais importantes de sua vida, conquistas notórias e até sonhos grandiosos. Ah, claro, e ela estava muito grata, principalmente por ele ter tirado aqueles dois pesos absurdos de seus ombros.
Ele deixou as malas na plataforma de embarque, o onibus partiria em quinze minutos ainda, mas ele preferiu deixar ela sozinha para o embarque. Ela pareceu querer isso também.
"Eu queria..."
"Me dê seu telefone, Renato, eu te ligo logo que voltar de viagem. Ligo mesmo, mocinho."
Ele tomou seu caminho rotineiro para o trabalho, mas com uma sensação de triunfo enorme. Finalmente ele tinha conseguido ter interessado uma mulher sem joguinhos ou frases planejadas. Foi sincero, contou de sua vida, de suas idéias. E contou de modo cru, não floreou nada para que parece mais importante do que realmente era. Pelo contrário, passou rápido por momentos em que deixava aparecer alguma qualidade sua. Sentia-se feliz por ter achado uma mulher que se interessasse por ele de modo tão natural. Nunca tinha sido tão sincero em um encontro.
Tão logo ele saiu e se afastou o suficiente, ela voltou a pegar suas pesadas malas. Ela precisava chegar logo em casa, acabara de voltar de viagem. Precisava ligar para a vó e dizer que havia chegado bem. Apesar de atrasada, estava contente naquele momento. Conhecera um homem tão sincero, tão natural. E estava mais uma vez orgulhosa de seus jogos de sedução terem funcionado mais uma vez. O olhar de lado, a idéia de uma mulher carinhosa, que gosta de sua família e ao mesmo tempo descolada. Uma mulher inteligente, mas que ainda pode ser frágil e gostar de um homem a ajudando. Tudo ocorrera mais uma vez como o planejado. E era um homem especial. Muito interessante e simples ao mesmo tempo.
Ela iria ligar para ele dentro de uns quatro dias. Sairiam algumas vezes, mas não daria certo. Era como das outras vezes. Como das outras vezes em que encontrara um homem especial em algum sentido. Seria a primeira vez que sairia com um homem especialmente sincero, honesto e despreocupado com impressões. Era mais curiosidade do que atração. Interessou-se muito por ele, mas isso passa. Talvez daqui a quatro dias ela nem precisasse ligar mais, aquela meia-hora de convivência já diziam bastante a ela sobre aquele tipo incomum.
Ele passaria alguns dias pensando nela. Queria que ela ligasse, queria sair com ela. Era tão agradável estar com ela. Mas estava mesmo é feliz pelo modo como agiu. Cada dia se conhecia mais, passava por uma fase muito introspectiva. Descobrira finalmente o que era ser sincero consigo mesmo. Talvez depois de alguns dias ela nem precisasse ligar mais, naquela meia-hora de convivência ele já havia amadurecido bastante com aquela companhia agradável.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Gostei!=)

16 novembro, 2005 16:04  
Anonymous Anônimo said...

Uau,uau,uau!
Adorei,muito gostoso!
"Ligo mesmo, mocinho." foi muito a sua cara.
Achei bonito,mas são mesmo palavras.Não consigo acreditar num amadurecimento com meia horinha,talvez porque eu não me deixe levar por muitas coisas,mas enfim,a finalidade entre eles,a conversa realmente sincera me faz acreditar em paixão,em coceirinha do coração.O rapaz é muito gentil em todos os atos mesmo,e a garota muitíssimo divertida e descontraída,amei esse texto!

Mais beijos pro chatão.

26 novembro, 2005 14:22  
Anonymous Anônimo said...

Fiquei um pouco decepcionada...mas gostei!...Dé

28 maio, 2006 14:27  

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