O mosquito e o sisudo
(um texto que quis ser poema...)
O dia já era daqueles não muito amigáveis, não havia a claridade de uma tarde comum e, conforme andava pelas ruas e por entre as conversas alheias, seus ouvidos só davam atenção àquelas lamúrias, reclamações e comentários rancorosos sobre pessoas quaisquer. Pessoas quaisquer reclamando de pessoas quaisquer, e o que menos lhe importava era no ombro de quem sentava a razão, se aquelas palavras hostis chegariam aos ouvidos de quem não deveriam ou se tais palavras deveriam mesmo ser ditas. O sentimento que regava aquelas frases, que inspirava aqueles comentários rápidos, ágeis, de uma esperteza e astúcia que só aparecem nesses momentos de rancor, que impulsionavam aqueles gestos exagerados, o sentimento de descontentamento geral de todos e com todos, esse sim lhe indignava a razão e perturbava a alma.
A vida é simples. E em sua simplicidade não cabe a confusão desse tipo de sentimento, que nasce de desentendimentos, alimenta-se de si mesmo, respira o nosso orgulho e cresce nos corações perdidos. Perdidos, porém, apenas por terem largado aquela mão que continua a seu lado, no seu caminho sem rumo, esperando apenas que você pare de olhar o chão frio dessa trilha que dá voltas em seu próprio umbigo e repare que tudo que você precisa fazer é assumir suas escolhas e olhar para o lado. Isso ele pensou.
Mas o que ele agora via e o que agora lhe importava era apenas o sentimento. Nem as soluções, nem as causas, conseqüências ou sequer a verdade. Só queria saber o que era aquele sentimento que fazia tantos passarem tanto tempo (nem perdendo, nem ganhando, apenas passando...) criticando, julgando, comentando a vida dos outros. Mas por entre os diálogos por onde andava, ele percebeu algo que havia deixado passar ao passar tão rápido e de raspão por conversas tão longas e profundas. Onde antes ele via o rancor, agora ele via o humor. Comentários que feriam, agora curavam, outras vezes contemplavam e depois se distanciavam. Alguns momentos riam, outros logo choravam.
E então ele se apercebeu. Entendeu o que unia tão variados sentimentos. Reclamando dos outros, descontentes com os outros. Criticando e julgando, comentando a vida dos outros. Feriam os sentimentos dos outros, curavam as tormentas dos outros. Contemplavam e, dos outros, se distanciavam. Riam dos outros, com os outros, choravam pelos outros. E o engano do sisudo ele não cometeu. O sisudo que, dentre os mesmo diálogos, concluíra que as pessoas passavam muito tempo a falar de outros e perdiam esse tempo para cuidar da própria vida. Engano do sisudo que ele não cometeu.
E o mosquito percebeu que, para todos, a própria vida são os outros. E para os outros se vive. Desentendimentos e confusões, desculpas para o prazer da reconciliação. Tudo que se move é tudo o que importa, tudo que muda, e tudo o que importa são os outros. Amigos detestáveis, inimigos adoráveis. Estranhos que só passam, o estranho que, só, passa. Colegas, conhecidos e aquela figura pública que fala para multidões. São todos outros. O porquê você vive, os para quem você vive. E você, o porquê os outros vivem, o para quem os outros vivem.
E o sentimento que o mosquito confundira. Confundira com rancor, talvez ódio, talvez temor. Confundira também com humor, talvez carinho, talvez calor. O sentimento que tanto o confundira, que desde a tarde escura ele não entendia. Aquele sentimento que o fez esquecer das razões e o fez seguir o caminho tão confuso. Aquele sentimento que o fez perceber que a nossa vida são os outros. Apenas, e tão somente, por ele ter confundido o rancor pelos outros e humor com os outros. Aquele sentimento, ele finalmente descobriu, era, pelos outros, amor.
5 Comments:
Rodrigo seu fofoqueiro! A Carol e a Cris tão brigando comigo pela minha Ictericia! Queria poder ler teu testo inteiro, mas vc sabe que eu pago a hora da internet, e quando eu tô aqui na loja o brujha ta sempre usando.
beijo, e para de fofocar!!!
Rodrigo seu fofoqueiro! A Carol e a Cris tão brigando comigo pela minha Ictericia! Queria poder ler teu testo inteiro, mas vc sabe que eu pago a hora da internet, e quando eu tô aqui na loja o brujha ta sempre usando.
beijo, e para de fofocar!!!
Hmmm.. dona Fiori, ao invés de ler meu texto, fica reclamando de coisas alheias a este blog.
Outra, elas têm razão em brigar com você.
Outra, "teXto" é com X!!!
Soneca...
O erro do sisudo você não cometeu.
Por isso encontra sorrisos, encontra humor, encontra amor.
Gostei muito do seu texto.
Beijos... Cris
:-*
(meu beijinho é melhor q um comentário!)
Adoro você,
Garota Tímida
Doce
Apimentadinha
Pandinha
( ..e outros que ainda estão por vir.. ;-)
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